Efemeridades

deixei cair o corpo pesado sobre uma Terra, que fazia parte de mim, sentia-a presente nos instantes da minha vida... deixei-me cair, deixei que me invadisse com a sua tristeza, com a sua ténue força, com a imensidão que lhe habitava, que conheci, desconheci, que recolhi em mim, que negava, odiava... que não consegui nunca compreender! permaneci imóvel, por instantes, alguns minutos... horas, dias, semanas a fio, perdi-me na minha triste solidão, num desespero compartilhado... vi o sol, a lua, contei as estrelas, desejei que fossem mais, que fossem menos... brilhassem mais, que ofuscassem menos, me guiassem, que me deixassem seguir um rumo incerto, me deixassem perdida no desconhecido.

enrolei-me em mim, olhei-me. estava vazia... tinha fugido a alma, o ser...
tudo me tinha abandonado, até eu tinha desistido de lutar.

deixei-me cair uma vez mais, esquecendo que já o tinha feito, que não havia mais para cair...

deixei-me ficar.

deitada, fechei os olhos, abri os braços

adormeci...